A biografia do diamante Koh-i-noor é repleta de mistérios e lendas. Dizem trazer má sorte aos homens, já que todos que o possuíram sofreram com a perda do trono ou com outros infortúnios. Contudo a maldição não atinge as mulheres. Sua origem incerta é ingrediente para competições e conflitos. Durante toda história conhecida do Koh-i-noor, muitos reivindicaram sua posse. Hoje, ele faz parte das joias da Coroa Real Britânica.
Diamante Koh-i-noor
Fonte: Coroa Real Britânica
Há especulações que dizem que o Koh-i-noor pesava 793 quilates em seu estado bruto. No entanto, um joalheiro chamado Borgio, responsável pelo corte e lapidação do diamante, foi desajeitado em seu serviço. Assim, a gema lapidada foi reduzida para 186 quilates. Apesar de Borgio ter trabalhado por anos no diamante, o filho do imperador da época ficou tão furioso com o resultado, que mandou confiscar todos os bens do joalheiro e executá-lo.
A história do Koh-i-noor começa com um mito. Alguns acreditam que o diamante tenha sido encontrado há mais de 5.000 anos e que se trata da lendária Syamantaka, joia mencionada em antigas escrituras Hindus. Conta a lenda que Krishna obteve o Syamantaka de Jambavantha, outro deus da mitologia hindu. Porém, Krishna foi acusado de ter roubado o diamante do falecido irmão de Satrajith. Perante tais acusações, com a reputação em jogo, Krishna achou melhor devolver a pedra a Satrajith. Envergonhado com toda confusão, Satrajith ofereceu sua filha à Krishna, assim como o diamante de volta. Krishna recusou o diamante, mas aceitou a filha Satyabhama.
Há outras diversas especulações sobre a origem do Koh-i-noor. Ele pode ter sido encontrado no leito de um rio hindu, por volta de 3200 a.c. No entanto, a teoria mais aceita é a de que o Koh-i-noor foi achado por volta do século XIII, na região de Kollur, hoje Guntur, na Índia, uma das primeiras regiões conhecida por extrair diamantes. Até 1730, antes da descoberta de diamantes no Brasil, esse era um dos únicos lugares conhecidos como fonte de diamantes no mundo.
A primeira evidência histórica convincente do Koh-i-noor está na Baburnama, as escrituras de Babur, o fundador do império Mogol. O império adquiriu o diamante em 1526 e Babur o avaliou como suficiente para alimentar o mundo inteiro por dois dias e meio. No entanto, há quem diga que o diamante foi parar na Rússia e que ele pode ser o conhecido diamante Orlov e não a pedra mencionada nas escrituras de Babur.
A confusão não para por aí. A Baburnama relata, ainda, como o sultão de Malwa foi obrigado a entregar o seu tesouro e o enorme diamante, ao sultão Ala-u-deen Khilji. Apesar da fonte de informação de Babur ser desconhecida, alguns estudiosos afirmam que a identidade do diamante citado nas escrituras é realmente o diamante que depois viria a ser chamado de Koh-i-noor.
O Koh-i-noor permaneceu no império Mogol até 1739, quando o persa Nadir Shah, o conquistador da Índia, tomou posse de tudo e se fixou em Delhi. Dentre os imperadores Mogol que possuíram o diamante está Shan Jahan, famoso por construir o Taj Mahal. Conta uma lenda que um eunuco do harém do imperador Mogol contou a Nadir Shah que o imperador escondia o Koh-i-noor em seu turbante. Então, para celebrar sua conquista, Nadir sugeriu ao imperador Mogol uma troca de turbantes, um conhecido costume oriental, que simbolizava laços de eterna amizade. O imperador, pressionado pelos costumes, não pôde recusar a troca. Mais tarde, Nadir foi verificar o turbante. Assim que acabou de desenrolá-lo, ele encontrou o enorme diamante e gritou “Koh-i-noor”, que significa “Montanha de Luz”. Nadir Shah, então, levou a pedra para a Pérsia.
Nadir Shah foi assassinado em 1747 e a pedra foi parar no Afeganistão. O diamante permaneceu no país até 1830, quando Shah Shuja, deposto do reinado afegão, fugiu com o Koh-i-noor para a Índia. Lá, Shan Shuja, presenteou o marajá Ranjit Singh Ji, do império Sikh, com a enorme gema. Como agradecimento, o marajá recuperou o trono afegão para Shan Shuja.
A Índia permaneceu com a posse do Koh-i-noor até a anexação de Punjab à Inglaterra. Os oficiais da Coroa Britânica encontraram o Koh-i-noor em 1849, nos tesouros de Punjab. Todo o tesouro foi confiscado após as batalhas.
O diamante foi entregue a Sir John Lawrence, Governador Geral da Índia. Ele, temendo o roubo da preciosa joia, escondeu o Koh-i-noor em uma velha lata enferrujada. O tempo passou e ele acabou se esquecendo onde havia escondido o diamante. Assim, quando o governo inglês pediu a Sir John um parecer sobre a joia, ele disse não saber onde estava. Em resposta, Londres enviou uma nova carta, que pedia que Sir John encontrasse a joia com urgência, uma vez que o governo inglês desejava presentear a rainha com o Koh-i-noor. Novamente, Londres recebeu a mesma decepcionante resposta de Sir John.
Preocupado com a situação, o primeiro ministro inglês, Lord Palmerston, mandou um apelo de próprio punho. Sir john, então, concentrou esforços e recursos em uma busca desesperada pelo diamante. Com toda a movimentação da caça, um empregado muito fiel chamou Sir John e disse: “existe um pedaço de vidro em uma lata velha na caixa de ferramentas, é isso que o senhor procura?”. Sir John ordenou que o empregado fosse buscar o “pedaço de vidro”. Sim, lá estava ele, sem qualquer cuidado ou embrulho, o Koh-i-noor, uma das gemas mais famosas do mundo, perdida em uma lata velha.
Assim, em 1850, a rainha Victoria da Inglaterra foi presenteada com o diamante, que foi lapidado novamente e passou a pesar os atuais 106 quilates. Ele foi colocado em uma tiara, ao lado de outros 2000 diamantes reais. Em 1911, uma nova coroa, com o Koh-i-noor como diamante central, foi confeccionada para a coroação da rainha Mary. Mais tarde, em 1937, o diamante foi transferido para outra coroa, para a coroação de Elizabeth, a rainha mãe, onde se encontra até hoje.
Koh-i-noor na Coroa da Rainha Elizabeth
Fonte: Coroa Real Britânica
No entanto, nem os ingleses ficaram livres das confusões que sempre acompanharam o Koh-i-noor. Em 1947, o governo da Índia reivindicou a posse do Koh-i-noor e pediu que a Inglaterra devolvesse a gema. Outro pedido foi feito em 1953, ano da coroação da rainha Elizabeth II. Porém, a briga pelo diamante esquentou em 1976, quando o primeiro ministro do Paquistão, Zulfikar Ali Bhutto, em uma carta ao primeiro ministro britânico, James Callaghan, fez um pedido formal exigindo a devolução do diamante ao Paquistão.
Em outubro de 1997, um pobre fazendeiro de Punjabi, por volta dos 70 anos, Beant Singh Sandhawalia, afirmou ser o último descendente vivo (por adoção) de Duleep Singh, o sultão de Lohore na época da conquista britânica. Ele escreveu ao Palácio de Buckingham e ao primeiro ministro, Tony Blair, exigindo a devolução do diamante. Sandhawalia dizia não querer o Koh-i-noor para si, mas deseja doá-lo para o Museu do Golden Temple de Amritsar, o mais sagrado santuário dos Sikh.
Em novembro do ano 2000, o Talibã exigiu, com urgência, a devolução do diamante ao Afeganistão. Eles afirmaram que a pedra era propriedade do Afeganistão, uma vez que a história mostra que o Afeganistão foi, depois da Índia, o segundo paradeiro do Kooh-i-noor. Assim, enquanto um comitê do parlamento indiano insistia na devolução do diamante para Nova Delhi, o Talibã dizia que o marajá Ranjit Singh o roubou do Afeganistão.
O governo britânico afirma que tal competição é só mais uma prova de que é impossível estabelecer um verdadeiro dono para a gema. Dessa maneira, ela continua fazendo parte de uma das joias da Coroa Real Britânica.
Em abril de 2002, poucos dias depois da morte da rainha Elizabeth, sua coroa foi tirada de sua redoma na Torre de Londres, local onde são guardadas as joias da coroa, e foi carregada a céu aberto, em cima do caixão, do Palácio Saint James até o Westminster Hall. Durante todo o velório, a coroa, com o Koh-i-noor, ficou exposta, enquanto o público passava para prestar suas últimas homenagens à rainha mãe, a última imperatriz da Índia.