Anéis de noivado

As mãos tremendo, molhadas. Encharcadas. O coração a pleno galope dentro do peito. A boca seca e um fio de suor gelado na testa.É isso.

As pessoas todas ao redor desaparecem, o tempo congela e o próprio ar se transforma em água morna, atrapalhando os movimentos enquanto você estende a mão tentando alcançar o bolso.

Meu Deus, como ela é linda; sempre foi linda assim mesmo?

De joelhos, seus dedos teimam em não responder – quando foi que você ficou tão estabanado? –, o texto que você tinha decorado evapora e quando as palavras escapam o silêncio é ensurdecedor. Tic-tac-tic-tac.

Ok, calma. Inspira.

Como foi que você chegou aqui?

Olhando para trás, parece que esse tempo voou. A rota de vocês dois sendo desenhada a cada dia e o horizonte enorme e repleto de possibilidades adiante. O primeiro beijo com gosto de menta e a vez que você pisou no pé dela dançando forró, a mania dela de comer pastel com garfo e faca, aquele olhar fuzilante quando você esqueceu de abaixar a tampa, o abraço forte que ela te deu quando você não conseguiu aquela promoção. O companheirismo, o carinho e o respeito, você rememora todas as curvas e detalhes do percurso, os marcos mais importantes e as retas suaves de uma viagem que começou sem rumo e que trouxe vocês dois até aqui.

Foi então que você percebeu. Talvez tenha sido devagar, pouco a pouco, sem planos; talvez tenha sido uma surpresa. Talvez você soubesse desde o primeiro beijo. Talvez você saiba explicar; talvez não. Mas você percebeu que naquele horizonte repleto de possibilidades, uma delas não existia mais: a possibilidade de seguir qualquer caminho sem ela.

Não porque é fácil, porque fácil nunca é. Não porque você se sente na obrigação ou pelo que as pessoas disseram ou deixaram de dizer. Não porque o tempo passou e “chegou a hora”. Aliás, ao contrário do que as pessoas dizem, o tempo não tem nada a ver com isso. Uma união se consuma, não se consome; amor se prepara em fogão a lenha e não em chapa de fast-food. As pessoas dizem muita besteira às vezes.

E você se dá conta que é porque não importa o que aconteça, ela faz você sentir que tudo sempre vai ficar bem. Do jeito dela, mesmo quando tudo parece difícil, você olha para o lado e ela está ali e esteve durante todo esse tempo. E é isso que você quer que ela saiba também. Todo. Santo. Dia.

Expira.

No fundo do bolso, o alívio quando você alcança aquela argolinha e percebe que não é só o ouro, não é o metal; não são as pedrinhas brilhantes. Aquele anel de noivado é a sua história, são todas as histórias escritas a dois, com todas as curvas e detalhes e cuidados, como foi entre vocês. E mais do que isso, é a moldura do que está por vir, a lembrança constante da tela em branco que vocês ainda vão pintar juntos. Com ou sem palavras, é a sua promessa para ela. É o seu jeito de deixar ela saber, todo dia, que você vai estar sempre ali.

Então agora respira fundo, estende a mão e olha pra ela. Tá vendo esse brilho nos olhos?

É só isso que você precisa ouvir.